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Globalização, identidade e o local

Subtítulo: viajei na maionese na redação. Primeiro os textos que provocam, depois meu texto e a questão proposta em processo seletivo que participei. Eles demoraram a publicar a questão, que copiei abaixo, logo após a redação.

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Oswald de Andrade. Trecho do Manifesto Antropófago.

O questionamento sobre a identidade nacional parte do princípio de que o Brasil e os brasileiros teriam alguma peculiaridade em relação ao resto do mundo. O problema é justamente o contrário: não temos peculiaridade nenhuma. […]
A idéia ilusória de que somos uma nação particular, com características próprias, precisa ser combatida. No dia em que percebermos que somos um país amorfo, desinteressante, sem graça, talvez comecemos a buscar alternativas reais para nossa miséria social e cultural.” MAINARDI, Diogo. In: Veja, 29/08/01, p.151.

 

Disco O rei da vela

Já foi registrado que o nosso país é um dos que mais discutem a sua identidade; fato comprovado pelas inúmeras produções intelectuais e artísticas que tematizam o país. E na tendência globalizante os estudos internacionais cunharam a máxima que o “local é global”.

O substrato cultural brasileiro é formado por elementos diversos e conflitantes. Em vários momentos históricos houveram mudanças e este polimorfismo que nos caracteriza possui os movimentos de negação e de “volta às origens”.

A negação quer filtrar os elementos crioulos e sublimar, transformar e cunhar uma sociedade ideal ou cultura estrangeira imposta. por outro lado, indianistas, o genial Oswald de Andrade com o seu “Tupi or not tupi” mostram que a riqueza vem justamente da variedade. Precisamos reconhecer o passado de colônia, sim.

A globalização não poderá afetar a identidade cultural brasileira, pois ela já existe apesar das dificuldades de enquadrá-la. E talvez justamente pelas suas características tão múltiplas, esta marca brasileira exerce um fascínio nos estrangeiros que a conhecem. Finalmente, o que chamam de “alma” brasileira de parece cada vez mais com o que chamam globalização, pois é cada vez mais espelho do mundo apesar de regional.

 

PROPOSTA DE REDAÇÃO (continuação )
Uma das questões mais interessantes a respeito do Brasil é a preocupação extrema com sua identidade. Prova disso é a quantidade de teses, livros, filmes, personagens, enfim, produções intelectuais e artísticas que tematizam o país — enorme se comparada à de
outras sociedades. Para tentar compreender o problema, é preciso definir identidade como sendo um conjunto exclusivo de caracteres de uma nação.
Note-se que um ou outro aspecto pode ser semelhante ao de outra nação, mas o conjunto chamado identidade é exclusivo de cada cultura. Simultaneamente, a ausência de certas marcas contribui para caracterizar uma sociedade.

Quando se fala em Globalização, pensa-se, sobretudo, nos aspectos políticos e econômicos envolvidos no processo. No entanto, a face cultural do fenômeno, que raramente vem à tona, parece constituir fator fundamental para se compreender o panorama que está em vias de se formar. Diante desse quadro, responda:
Em que medida a identidade cultural brasileira é afetada pela globalização?

• Seu texto deverá ter até 30 linhas.
• A redação deve apresentar um título adequado e criativo.
• Os argumentos devem ser coerentes entre si, embora a abordagem possa ser intermediária.
• A modalidade escrita deve seguir a norma padrão do idioma.
• Sua dissertação deve, preferencialmente, seguir estruturas e estratégias valorizadas nos vestibulares, por isso evite redigir um artigo acadêmico típico do meio universitário.
• O texto será avaliado segundo cinco critérios: tema, tipo de texto, coerência, coesão e modalidade escrita.

Crônica do julgamento de Galileu – Poder & Ciência

Gostei muito destes trechos, e li parte deles no Clube da Leitura.  Como o livro está esgotado e a leitura rendeu bons papos tomei a liberdade de reproduzir trechos aqui. O livro é de autoria de Péricles Prade:

capa do livro de pericles prade

Capítulo I – O anunciador de céus novos

Antes de Galileu existiam óculos havia quatro séculos, Mas ninguém em quatrocentos anos tivera a curiosidade, a idéia de ver o que aconteceria se, em vez de se servir de um par de óculos, fossem empregados dois pares ao mesmo tempo.

A verdade é que o fabricante de óculos não era um óptico, mas um artesão. Ele não fabricava instrumentos ópticos; construía umas engenhocas. Por isso o nascimento da óptica científica não constitui o desenvolvimento de uma tradição artesanal, mas antes, a ruptura de tal tradição que, fechada em si mesma, não levava a parte alguma.

Talvez haja uma verdade profunda na narração, aparentemente lendária, que atribui a invenção do primeiro óculo de alcance ao acaso, à brincadeira do filho de um fabricante holandês daquele instrumento.

A inovação técnica, portanto, foi realizada por alguém que a tal não se propôs. Daí que a questão da prioridade na fabricação de telescópios, muitas vezes discutida, não se reveste de grande importância.  ……

Além do mais, a invenção (do latim invenire, achar) de Galileu foi a de “achar” a intuição, a liberdade, a coragem, a curiosidade, a louca temeridade de apontá-lo para o céu, considerado desde milênios como a morada do Deus judeu-cristão Iahweh, da sua Corte de anjos e de profetas e santos do Antigo e do Novo Testamento, para nele explorar o espaço-tempo da imensidade eterna, o jogo desconhecido das luzes e sombras entre estrelas e planetas, o ritmo-harmonia do movimento das esferas, a cara dos impassíveis, inalteráveis corpos celestes, com infinita paciência, visando a descobrir-lhe talves o mecanismo secreto.

A primeira revelação do pequeno telescópio foi a existência de quatro satélites de Júpiter.

À notícia da descoberta galileiana, seus colegas de universidade responderam de imediato, denunciando-lhe os métodos como absurdos e seus resultados como ímpios. Antes de mais nada, devia tratar-se, naturalmente, de um erro de óptica.

De fato, a respeito de tais satélites nada dissera Aristóteles. Ora, impossível Aristóteles ter errado. Logo, não existiam satélites de Júpiter. Do mesmo modo, também a Bíblia os ignorava.

Na realidade, supunham os corpos celestes não podiam ser senão 7 (o sol, a lua, e os cinco planetas até então conhecidos: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), porque 7 é um número sagrado.  …

Para a maioria as descobertas não passavam, diziam, de ilusão óptica, de defeitos do instrumento ou até de diabólico engano.

Ninguém, penso, acreditavaa que Galileu e seus amigos mentissem. O problema estava na interpretação. Não faltava, também, quem, por mais que quisesse, não “podia” acreditar no óculo. A esse respeito era contada uma anedota, por assim dizer típica e referente ao peripatético Cremonini, um colega de Galileu na Universidade de Pádua, que se recusou a olhar através do óculo.

Cremonini naquele momento era a glória de Pádua e o seu ordenado era o dobro do de Galileu. …..

Tal como todos os aparelhos que se interpõe entre o olho e o seu objeto, o óculo astronômico, em vez de melhorar a observação, deforma antes e falseia a visão. Assim, negando-se a ver o que o outro via, Cremonini não queria sair do próprio universo, pois desconfiava do universo “ilusório” de Galileu.

O próprio Kepler, …no princípio mostrou-se cético, e, mesmo depois de recebido o óculo, construído por Galileu, por intermédio do eleitor de Colônia, precisou de mais de duas semanas de provas e contraprovas para chegar a concluir que aquele sábio tinha razão.

Era o fim de Agosto de 1610. Decorrera um ano desde as primeiras observações e descobertas galileianas.

Kepler, de repente, transformou-se em neófito da nova fé e em poucas semanas redigiu o Relatório de observação sobre os quatro satélites de Júpiter, um notável livrinho que lançava as bases teoréticas do telescópio. Usando, pela primeira vez, o termo satélite. Ao amigo italiano, pioneiro solitário, Kepler repete com alegria as últimas palavras do imperador Juliano, derrotado por uma força sobre-humana: Vicisti, Galilaee!

No mês de julho de 2012 foi aberta uma exposição pública dos arquivos secretos do Vaticano. A Globo News fez um especial, e compara Giordano Bruno (que não renegou seus conhecimentos) a Galileu.

Mês da Consciência Negra

Neste dia 20 de novembro foi comemorado mais um Dia Nacional da Consciência Negra.  Apesar de não concordar com o governo Bush, nem com a sua política… acima está a foto de uma de suas mais importantes assessoras: Condoleezza Rice em uma biografia. Além desta existem outras, mas neste mês ela lançou No Higher Honor: A Memoir of My Years in Washington (Não há Honra Maior: Memórias dos Meus Anos em Washington) com 784 páginas.  Ela descreve um Muammar Kadhafi com apaixonite platônica (os rebeldes encontraram um álbum de recortes no quarto do ditador), negociações secretas sobre o estado palestino, Iraque,  furacão Katrina.

O fato dela e Powell serem negros – o trecho a seguir foi copiado da Revista VEJA: Segunda mulher a ser secretária de Estado em mais de dois séculos de República, e segunda pessoa negra a ocupar o posto — o primeiro foi o general Powell –, Condoleezza não deixa de abordar a questão e o impacto em outras pessoas. “Uma secretária de Estado negra não se enquadrava com o estereótipo geral dos EUA”, comenta, a certa altura. “[O primeiro-ministro britânico Tony] Blair resumiu isso muito bem quando disse que, no primeiro encontro [com Bush] em Camp David [casa de campo oficial dos presidentes americanos] ficou algo chocado ao ver o presidente ladeado por Colin Powell e por mim”.

Condoleezza, que atualmente ensina política internacional e negócios na Universidade de Stanford comenta sobre o Brasil.  Ela gostou muito da Bahia, e relata a impressão que teve do país:

“Durante a visita me surpreendi com a divisão racial no Brasil. Os brasileiros sempre sustentaram que não tem problema racial. Pareceu-me que nos serviços braçais ficam os africanos (com pele escura); nos serviços, os mulatos (bi raciais); e os funcionários do governo têm ascendência europeia/portuguesa. O Brasil foi o país (que visitei) mais parecido com os EUA na sua composição étnica, mas parece ter tirado pouco proveito da revolução pelos direitos civis que mudou a face da política e da sociedade americana”

Leia mais sobre a autora e outros assuntos relacionados à mulher negra no Portal Geledés.  http://www.geledes.org.br/

Infelizmente o fenômeno se repete em outros setores da nossa vida política: Como explicar que países europeus por muito tempo tinham um número maior de negros nos seus quadros do que o Instituto Rio Branco? Para não passar mais constrangimentos internacionais, o IRB implantou uma política de incentivo… este e outros fatos demonstram a importância das cotas, e de outras medidas tomadas para diminuir a desigualdade que existe de fato na sociedade atual. E serei sempre a favor das cotas enquanto nas estatísticas do IBGE e outros estudos o homem branco (com menos estudo, só pelo fato de ser homem) ganhar mais que o homem negro, que ganha mais que a mulher branca, que ganha mais que a mulher negra – muitas vezes sem que a qualificação ou preparo pesem na seleção profissional.

Nesta semana, a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) Luiza Bairros recebeu a medalha Zumbi dos Palmares em Salvador.  Conheça a biografia da atual ministra.

Para fechar veja comentário de Chico Buarque sobre racismo – “As pessoas pensam que são brancas, inclusive que eu sou branco. E isso só acontece no Brasil”

Eleição 2011 para DCE na UFRJ e o analfabeto político

O resultado da eleição para DCE UFRJ (quase 9000 votos divididos entre os concorrentes) e atualização nonsense de última hora:  Ao lado do aviso da vitória da Chapa 2 –  “Honestidade é bom e Deus gosta”  😛  – não combina NADA com a chapa vencedora! (apesar da falta de comentários o post bateu record de visitas. Valeu!)

Eleição para o DCE Mário Prata da UFRJ ou qualquer outra! Acompanhe a eleição e compare a idéia de TODAS das chapas – afinal de contas… são pessoas e grupos que irão nos representar e falar por nós. Não podemos escolher qualquer um, não é mesmo? Escolham bem, depois o que fizerem na gestão estará com a assinatura do seu voto.

O nome Mário Prata é de um estudante de engenharia, que na época era presidente do DCE e foi assassinado. Tive a idéia inicial de escrever este post quando vi muitos colegas e conhecidos da Universidade querendo votar na “base da amizade” ou até mesmo (quase) às cegas, conhecendo apenas uma ou duas das propostas.

Chapa 1 – http://maosaobraufrj.blogspot.com/

Chapa 2 – http://naotemostempoaperder2011.blogspot.com/

Chapa 3 – http://correntezaufrj.tumblr.com/

Chapa 4 – http://movimentoquemvemcomtudonaocansa.blogspot.com/

LEMBRANDO: o voto em branco ou nulo é deixar que outros decidam e falem por você, mesmo que não queira.

Outro dado importante e que não posso deixar de destacar é que parte dos políticos que estão em Brasília foram líderes estudantis. Queremos incentivar que tipo de liderança para nossos filhos e netos? Pense sobre isso: desde o voto no condomínio, no departamento, no representante de sala ou qualquer outra instância em que o voto for necessário na sua vida.

“O Analfabeto Político”, por Bertolt Brecht    

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.